Parabéns pela sinceridade, Eliezer! (ou: Sobre o egoísmo de ter filhos)

O tolo que ri, de Jacob Cornelisz van Oostsanen

Não é todo dia que vemos pessoas comuns sendo tão sinceras, quanto mais subcelebridades oriundas de reality shows. Claro, a sinceridade aqui não saiu de um lugar de sapiência, muito pelo contrário, mas continua sendo sinceridade. Para contextualizar: Eliezer e Viih Tube são dois ex-participantes de Big Brother Brasil que passaram a se relacionar após o programa. Tiveram uma filha, chamada Lua, e agora esperam outro filho.

Por que perder tempo falando deles? Porque há poucos dias vi duas postagens no ex-Twitter que despertaram meu interesse. A primeira delas nem sequer foi de Eliezer ou de Viih Tube, mas de uma aleatória com dezenas de milhares de seguidores chamada Fernanda. A segunda postagem foi do próprio Eliezer.

Numa postagem que viralizou, Fernanda escreve:

“Pergunta para pensar:

Você que optou não ter filhos, quem você acha que cuidará de ti, na velhice? [sic]”

Já a postagem de Eliezer não é exatamente uma postagem dele, mas de um diálogo público entre Eliezer e um outro sujeito qualquer. O sujeito qualquer afirmou que Eliezer só não caiu no esquecimento porque casou com a “Vitória YouTube [sic]”, ao que Eliezer respondeu o seguinte:

“Nao concordo. ser marido de alguém famoso não é o suficiente pra se manter na mídia nem fechar publi. Se fosse assim, todos os maridos de alguém famoso estava na mídia bombando. Eu não caí no esquecimento pq tive estratégia e me achei em um nicho.

Em outras palavras, pra marca isso é construção e discurso. Eu fiz dinheiro como pai da lua, nao como marido da viih tube. [sic]”

Muitas foram as problematizações que fizeram, grande parte delas pautada no materialismo histórico e outras filosofias dogmáticas que pretendem justificar o devir como necessário. Por exemplo, muito se falou sobre como ter filhos para ganhar dinheiro com eles é um absurdo, que esse é um motivo egoísta, materialista e que isso remontaria a uma época em que famílias tinham filhos para eles trabalharem no campo e cuidarem dos pais.

Ao ler essas críticas politicamente bonitas, estranhei como as pessoas não percebem que, de um ponto de vista coletivo, isso é exatamente o que todas as sociedades fazem, mesmo aquelas sociedades que se pretendem igualitárias, progressistas e historicamente avançadas. Coletivamente falando, a reprodução humana é e sempre será um esquema de pirâmide. Será assim seja no capitalismo ou no comunismo.

No meu caso, poderia criticar de forma mais contundente porque entendo que toda reprodução é, mesmo individualmente falando, um ato egoísta. Ninguém tem um filho porque o filho pediu para existir. Temos porque queremos ter. Mesmo que pensemos que queremos ter filhos para que eles aproveitem tudo de bom que a vida tem a oferecer, isso não configura um motivo altruísta, porque somos nós que queremos. O ente ainda inexistente não quer nada. O que ainda não existe não tem voz para escolher se quer ou não passar a existir.

Portanto, toda reprodução é um ato egoísta. Este fato é inescapável e tentar negá-lo é risível.

Contudo, me vi não como crítico, mas como admirador das postagens da Fernanda e do Eliezer. Não é que ache bacana o que fizeram, não acho. Mas, de forma irônica, pensei que ao menos eles estão sendo extremamente frios, como os psicopatas são frios, ao falarem das razões pelas quais estão se reproduzindo. Ambos abandonaram qualquer pretensão emotiva ou altruísta e foram direto ao ponto: querem filhos para terem alguém que cuide deles na velhice e para ganharem dinheiro com publicidade.

Esse tipo de sinceridade é rara.


por Fernando Olszewski