Esclarecendo o texto "A bondade do suicídio"

No texto, A bondade do suicídio, argumento que a reflexão de um suicida que pensa não haver um sentido para a existência e que a vida possui uma estrutura terminal está correta. Lá escrevo que não é minha intenção justificar o suicídio daqueles que se matam por honra ou por futilidades, como os que se matam por amor, por exemplo—mas poderia ter dado outros exemplos, como matar-se pela perda de dinheiro, status social, ou coisas parecidas. E mesmo no caso da pessoa refletir sobre o desvalor da vida—por conta da sua falta de sentido e estrutura terminal—, em momento algum escrevo que é dever ou obrigação dessa pessoa matar-se. O que eu digo é que sua reflexão está correta. O que ela faz depois dessa reflexão é escolha dela. O ponto do texto é que o estigma associado ao suicida, especialmente o suicida que percebe o vazio da existência, é baseado em um moralismo falido, incapaz de sustentar-se sem apelar para conceitos mágicos ou autoritários.

O que particularmente penso a respeito do suicídio é basicamente o mesmo que Cioran, filósofo que cito no início daquele texto, pensava: o suicídio é uma espécie de possibilidade que alivia o fardo da existência mesmo quando apenas pensamos nela, mas não a colocamos em prática. Contudo, o suicídio é uma possibilidade que, no final das contas, é apenas mais uma atitude fútil dentro de todas as atitudes fúteis e sem sentido da vida. O estrago já foi feito ao nascermos. O próprio Cioran afirma que não adianta nos matarmos, já que sempre nos matamos tarde demais. É por isso que argumento que, às vezes, o suicídio torna-se a "menos pior" alternativa. Por que "menos pior"? Porque sustento a posição que, em determinados casos, o sofrimento de alguém pode ser tão gigantesco que, por mais fútil que seja o ato, ele torna-se totalmente justificável.