Filmes pessimistas

O que é o pessimismo filosófico? Trato mais a fundo essa pergunta nos textos: O Peso das Memórias ; Cioran, a filosofia do desespero e suas implicações éticas ; Pessimismo e antinatalismo no pensamento sul-americano: a ética negativa de Julio Cabrera e Precisamos falar sobre o antinatalismo. Resumidamente, podemos dizer que o pessimismo filosófico gira em torno da conclusão de que o fenômeno da vida não é especial para o universo, que a dor e o tédio são componentes fundamentais da vida animal (portanto, há um imenso desvalor em ser vivo, especialmente quando somos dotados da capacidade de sentirmos dor física e mental, visto que dor e tédio são as forças propulsoras da vida animal), e que a nossa resposta ética frente a isso deve ser a negação da vida. Por negação da vida, os filósofos pessimistas não querem dizer que o suicídio é a única ou a melhor opção, muito embora eles não condenem o suicida como fazem as diversas moralidades religiosas. A negação que eles propõem geralmente gira em torno de uma abstenção da continuidade do ciclo da vida, muitas vezes ligada à abstenção da procriação.

Neste texto, porém, não tratarei da filosofia pessimista — ou das filosofias pessimistas  em si, mas de filmes que me marcaram por possuírem tons pessimistas, no sentido do “pessimismo cósmico” descrito acima. São filmes que mostram que o universo não liga para os nosso sofrimentos, nem para as nossas lutas ou desejos de melhora. Os filmes que listo aqui podem ser tomados por essa perspectiva do início ao fim, ou, pelo menos, têm partes marcantes que tocam nesse tipo de ideia, embora não sejam inteiramente marcados por essa visão. A lista que faço não é exaustiva e planejo acrescentar novas entradas no futuro. Ela também não está organizada de forma hierárquica, logo, o fato de um filme aparecer primeiro ou por último na lista não significa uma preferência minha, nem tem relação com a sua data de lançamento. Então, sem mais delongas, aqui vai a minha lista de filmes pessimistas. Atenção: esta lista conterá spoilers.

The Sunset Limited, 2011, dirigido por Tommy Lee Jones

O filme é baseado numa peça escrita por Cormac McCarthy, o mesmo autor do livro (que gerou o filme) Onde os Fracos Não Têm Vez. A estrutura de The Sunset Limited é minimalista. A história toda se passa num pequeno apartamento, numa área pobre da cidade mais rica do mundo, Nova York. Há apenas dois personagens dialogando. Ao longo da conversa, descobrimos que os personagens se conheceram na manhã daquele dia e um deles, religioso, impediu que o outro cometesse suicídio jogando-se na frente de uma composição de metrô. A partir daí, desenrolam-se questionamentos sobre a fé religiosa de um e o niilismo extremamente sombrio do outro. Há uma excelente exposição do pensamento pessimista em que o niilista (interpretado por Tommy Lee Jones) explica para o religioso (interpretado por Samuel L. Jackson) que a evolução inevitavelmente produz animais capazes de entender a futilidade de todo o processo da vida, e que a conclusão lógica deste processo é o suicídio. Num determinado momento, o religioso pergunta: “Se estou entendendo corretamente, você quer dizer que todo mundo que não é um imbecil deve cometer suicídio?”, ao que o niilista responde afirmativamente.

Chinatown, 1974, dirigido por Roman Polanski
Clássico do neo-noir, o filme se passa na década de 1950 e segue Jake Gittes (interpretado por Jack Nicholson), um detetive particular que descobre uma trama de pessoas poderosas para adquirir terras valiosas na Califórnia a um preço muito abaixo do seu valor de mercado. Para isso, eles se utilizam do departamento de águas de Los Angeles, fazendo com que ele deixe de irrigar determinadas áreas, o que diminuirá o seu valor. Durante a investigação, Jake se envolve com a filha de um desses poderosos, Evelyn Cross Mulwray (interpretada por Faye Dunaway), que fora estuprada pelo pai quando tinha 15 anos e teve uma filha dele. No meio desse caos, ele tenta arranjar um jeito delas fugirem para o México, mas o plano não dá certo. Com a ajuda de seus capangas, o pai de Evelyn, Noah Cross, obriga Jake levar ele até Evelyn e sua filha-neta.

Chegando ao esconderijo, que fica no bairro chinês de Los Angeles, a polícia já espera por eles, pronta para servir ao poderoso Noah e seus comparsas ricos. Porém, Evelyn não aceita ir com seu pai, atira no seu braço e tenta fugir de carro junto com sua filha-irmã. Antes que o carro pudesse pegar velocidade, a polícia dispara em direção ao veículo, matando Evelyn com um tiro na cabeça. Noah leva sua filha-neta embora e a polícia solta Jake, visto que o objetivo de Noah esse tempo todo era  apenas recuperar suas filhas, especialmente sua filha-neta, quem ele provavelmente irá estuprar pelo resto da vida. Ao chegar ao local, um dos parceiros de Jake, vendo sua desolação diante daquela cena, diz a famosa frase para o seu amigo: “Forget it, Jake. It's Chinatown.” A frase é uma referência a um antigo caso que Jake investigou, mas que também acabou em desgraça no mesmo bairro chinês.

O tema de forças poderosas intransponíveis, nesse caso forças poderosas humanas, é um mote do neo-noir. Por mais que se tente escapar para um futuro melhor, por mais que se tente “ir para o México” ou alguma outra alegoria da vitória e da felicidade, a desgraça sempre dá um jeito de vencer no final. É sempre Chinatown.

Network, 1976, dirigido por Sidney Lumet
Um clássico com Robert Duvall, Faye Dunaway e Peter Finch (que recebeu o primeiro Oscar de atuação póstumo por ter representado Howard Beale, o personagem principal). O filme gira em torno de Beale, um âncora viúvo, alcoólatra e depressivo que resolve expor no ar toda sua frustração quando recebe a notícia de que será demitido devido baixa audiência. Seu discurso gera forte comoção e um aumento na audiência do jornal, fazendo com que executivos do conglomerado que controla o jornal televisivo utilizem Beale como uma espécie de “apresentador-profeta” dos tempos modernos. Beale aceita a proposta dos executivos. Apesar de se enxergar como um idealista, descobrimos que ele está apenas sendo usado pelos donos do poder para passar uma mensagem ao público.

Quando ele sai do script uma noite, acaba produzindo um dano no fluxo do dinheiro dos poderosos: seus telespectadores mandam milhões de cartas ao presidente dos Estados Unidos pedindo que ele barre uma fusão entre diferentes veículos de comunicação, o que ameaçaria a liberdade jornalística. Por esse pecado, Beale é admoestado pelo CEO do conglomerado. O CEO explica para Beale não haverem democracias, nem ditaduras, nem capitalismo, nem comunismo, nem socialismo, mas sim um fluxo de dinheiro e poder que controla todas as vontades humanas, independente de credo, cultura, religião, ideologia, e que este fluxo não tem propósito algum, não há finalidade alguma, ele apenas ocorre desde que o ser humano saiu da sopa primordial.

A Estrada (The Road), 2009, dirigido por John Hillcoat
Outra história escrita por Cormac McCarthy. O filme se passa depois de um apocalipse mundial não especificado. Seguimos um pai (interpretado por Viggo Mortensen) e um filho, ainda bem criança, numa jornada a pé até uma das costas dos Estados Unidos. Eles buscam alguma esperança num mundo completamente cinza, sem comida, onde o solo já não dá mais nada. Há uma escassez completa, ao ponto de quase não existirem outros animais para comer, o que faz com que muitos homens andem em bando, catando e aprisionando pessoas mais fracas com o objetivo de comer partes dos seus corpos.

Ao longo do filme, vemos flashbacks que mostram a tentativa do pai em convencer a mãe (Charlize Theron) a permanecer com ele na casa, cuidando do filho. Contudo, a mãe perde todas as esperanças. Ela tenta convencer o pai a matar o filho e depois cometer suicídio junto com ela, algo que ela afirma que muitos vizinhos já fizeram. A razão que ela dá para esse ato extremo é que o mundo acabou, não há mais ordem, além do que não há mais comida e nem esperança alguma de um retorno ao normal. Ela cita os bandos de homens que estão se aproveitando dessa situação para estuprar mulheres e crianças e depois comê-las para sobreviver. Num determinado flashback, vemos que a mãe abandonou os dois, indo para fora da casa durante uma noite, para nunca mais voltar. A única coisa que mantém viva a esperança do homem é ajudar o menino, para quem ele diz que devemos sempre manter a acesa “chama” da humanidade.

Melancholia, 2011, dirigido por Lars von Trier
Este filme possui análises muito mais profundas do que a simples exposição que farei aqui. Existem resenhas complexas e teses que abordam o aspecto alegórico da depressão da personagem Justine (interpretada por Kirsten Dunst), algo que não me atreverei a fazer neste pequeno review.

A primeira parte do filme mostra o casamento de Justine e a desastrosa recepção que se segue, na mansão da irmã de Justine (interpretada por Charlotte Gainsbourg) e de seu marido (interpretado por Kiefer Sutherland). Ao longo da recepção, vemos a total falta de funcionalidade da família rica e das outras pessoas que os cercam. O casamento começa e acaba ali mesmo. Ainda na primeira parte, o personagem de Sutherland, que gosta de astronomia, nota que uma estrela não está aparecendo no céu, mas ninguém dá bola para isso.

Na segunda parte do filme, vemos Justine sendo trazida para a mansão de sua irmã. Seu estado é deplorável. Ela sofre de depressão profunda, mal consegue se alimentar, caminhar ou dar atenção para o sobrinho que a ama. Justine necessita de ajuda até para tomar banho. No meio desse drama particular, descobrimos a razão pela qual a tal estrela estava encoberta naquela noite, muitos meses atrás: um planeta errante, que vaga pelo espaço sem rumo, estava cobrindo sua luz, avançando em direção à Terra. O consenso na comunidade científica é de que não há perigo, pois ao que tudo indica, pelas órbitas calculadas, o planeta — batizado de Melancholia — passará pela Terra sem nos atingir. Visto que Melancholia é algumas vezes maior do que a Terra, caso ocorresse uma colisão, ela resultaria no total aniquilamento do nosso planeta e o fim de toda a vida.

A medida que Melancholia se aproxima, Justine vai se revitalizando, mas não muito. Ela deseja que o planeta venha. Sua irmã começa a ficar muito preocupada e procura teorias apocalípticas na internet, encontrando alguns astrônomos que discordam do consenso científico tranquilizador. Seu marido diz que não há nada a temer e acha que a passagem de Melancholia pela Terra será um espetáculo único na história da humanidade. Numa passagem emblemática do pessimismo inerente ao filme, Justine diz para a irmã que não existe vida fora da Terra, que ela consegue sentir que estamos sozinhos no universo. Justine fala coisas ainda piores para sua irmã: ela diz que toda a vida é má e merece ser extirpada completamente do universo, algo que ela afirma que Melancholia fará ao colidir com o nosso planeta.

Finalmente chega o dia em que o planeta errante passará pela Terra e se afastará. O fenômeno pode ser visto a olho nu. Todos na casa observam maravilhados o acontecimento e, para alívio da irmã de Justine, Melancholia começa a se afastar. Ela resolve cochilar. Ao acordar, não encontra mais seu marido. Ela então percebe que Melancholia está ficando cada vez maior no céu, exatamente como os astrônomos dissidentes previram: primeiro, o planeta errante passaria por nós, depois retornaria e se chocaria com a Terra, matando toda a vida. Ela se desespera, vai atrás do marido e o encontra morto no estábulo, perto dos cavalos (sim, eles são muito ricos). Numa de suas mãos há uma caixa de remédios vazia, o que mostra que ele se suicidou depois de perceber que estava errado e que o mundo vai mesmo acabar. Ela então acorda Justine e elas resolvem passar o fim do mundo juntas no jardim com o menino. Justine brinca com seu sobrinho, dizendo que eles estão protegidos por uma tenda mágica, enquanto sua irmã finge estar tranquila, mas na verdade está completamente desesperada. O choque ocorre e a vida chega ao fim.

O Nevoeiro (The Mist), 2007, dirigido por Frank Darabont
Adaptado de um conto de Stephen King, a história se passa numa cidadezinha no interior dos Estados Unidos. Nunca sabemos ao certo a origem do nevoeiro, mas tudo indica que foi um experimento militar que resultou na abertura de uma passagem para outra realidade, habitada por monstros grotescos, que lembram misturas abomináveis de insetos, aracnídeos, crustáceos e tudo mais o que pudermos imaginar. Esses seres parecem vir de dentro da névoa que se espalha por toda a região, que fica incomunicável com o resto do mundo. A história propriamente dita acompanha um grupo de pessoas que toma refúgio num supermercado em meio ao nevoeiro. Desesperados e divididos por fanatismo, alguns humanos começam a querer matar os outros, tomados por um frenesi religioso descabido. Os personagens principais, a quem vou chamar de “grupo de sensatos”, dentre eles um pai (David, interpretado pelo ator Thomas Jane) e um filho pequeno, conseguem escapar do caos para dentro de um dos carros que estão no estacionamento.

O pequeno grupo de sensatos, liderado por David, dirige pela estrada procurando um fim para o nevoeiro, mas eles encontram apenas morte e destruição, sem a possibilidade de conseguirem sair do automóvel, visto que as criaturas monstruosas e assassinas parecem ter tomado todo o planeta. Há uma variedade enorme: alguns dos monstros são pequenos, outros tão grandes quanto arranha-céus; porém, todos são mortais. Armados com um único revólver e poucas balas, os adultos decidem cometer suicídio, enquanto o filho de David — a única criança dentro do carro  dorme. Ele, então, atira em todos, inclusive no seu filho. Desesperado, David tenta se matar, mas não há mais balas no revólver. Ele então resolve sair do carro, esperando ser devorado pelos monstros, mas nada acontece, apenas escutamos um barulho cada vez mais alto. Segundos depois, vemos um enorme grupo de militares andando ao lado de blindados e tanques fortemente armados, matando e incendiando as criaturas. Vendo que estavam prestes a serem salvos, David começa a gritar. Ele também observa um caminhão militar levando sobreviventes, dentre eles alguns dos fanáticos religiosos que estavam no mercado.

Seven, 1995, dirigido por David Fincher
O detetive nova-iorquino William Somerset (interpretado por Morgan Freeman) está prestes a se aposentar. Mas antes, ele pega um último caso com o recém-chegado e metido David Mills (interpretado por Brad Pitt). O caso envolve um assassino em série que mata suas vítimas de acordo com os sete pecados capitais. As primeiras vítimas representam a gula, a avareza, a preguiça — essa vítima ainda está viva, mas completamente incapacitada e condenada a morrer em breve , a luxúria e a soberba. No curso da investigação, Somerset e Mills ficam próximos. Ele é convidado para jantar com Mills e sua esposa (Gwyneth Paltrow). Num determinado momento, alguns dias depois, ela revela para Somerset que está grávida de Mills, algo que Mills ainda não sabe.

Antes que os detetives pudessem chegar mais perto e prender o misterioso assassino (interpretado por Kevin Spacey), ele próprio se entrega à polícia, caminhando todo ensanguentado dentro da delegacia onde os detetives estão. Ele é preso e, através de seu advogado, revela que existem outras duas vítimas enterradas num determinado local. Porém, o assassino só o revelará a localização se Somerset e Mills forem sozinhos com ele até o lugar remoto — decisão que os detetives devem tomar nas próximas horas ou o assassino deixará de revelar o paradeiro desses dois restos mortais. Somerset e Mills concordam com a proposta, afinal, o assassino está algemado e não representa mais perigo.

Chegando ao lugar remoto, um caminhão de entrega aparece na estrada de terra adjacente. Somerset corre a pé para interceptar o caminhão, deixando Mills tomando conta do assassino, que está algemado e de joelhos. O entregador diz que não sabe de nada, apenas que um sujeito o pagou para que trouxesse a caixa endereçada a um “detetive Mills” naquele horário e lugar remoto. Somerset abre a caixa e percebe que dentro está a cabeça da mulher de Mills. O assassino armou aquela situação toda. Somerset corre para tentar desarmar Mills, mas o assassino conta o que fez. Ele também conta que a mulher de Mills estava grávida e que a matou pois tinha inveja  um dos pecados capitais  da vida normal que Mills levava. Somerset tenta convencer Mills a não atirar no assassino, pois isso daria a vitória a ele, mas Mills não aguenta e descarrega sua pistola na cabeça do lunático, tornando-se a ira — o último pecado capital a aparecer na história.

O Enigma do Outro Mundo (The Thing), 1982, dirigido por John Carpenter
“Remake” (entre aspas, porque é completamente diferente) do filme The Thing from Another World, da década de 1950, O Enigma do Outro Mundo baseia-se na história de ficção científica intitulada de Who Goes There?, de autoria de John W. Campbell, Jr. Além do material original de Campbell, John Carpenter também foi influenciado pelo horror cósmico de H.P. Lovecraft para fazer a sua versão. O filme se passa na estação McMurdo de pesquisas científicas na Antártica. No começo da história, vemos um helicóptero sobrevoando o deserto gelado. De dentro, um homem tenta atirar num cachorro que foge pela neve. O cachorro alcança a estação americana e o helicóptero pousa. De dentro dele sai um homem gritando em norueguês, sem que os americanos entendam. O homem começa a atirar, tentando acertar o cachorro. Um dos tiros acerta um americano na perna de raspão, ao que o comandante da base responde, acertando um tiro de revólver na cabeça do norueguês. O piloto do helicóptero, então, pega uma granada e tenta arremessá-la contra os americanos, mas deixa ela cair e morre na explosão, que também destrói o helicóptero norueguês.

Os americanos ficam sem entender e dão abrigo ao cão, colocando-o noz canil da base com os outros cachorros. Alguns deles, então, resolvem checar o que aconteceu na base norueguesa. Apesar de não ser muito distante, é preciso ir de helicóptero. O piloto é R.J. MacReady (interpretado por Kurt Russell). Ao chegarem lá, os americanos descobrem a base toda destruída, algumas pessoas mortas e os restos mortais semicarbonizados de um ser que parece a fusão de duas pessoas diferentes. Eles trazem esse restos mortais bizarros e documentos de volta para a base americana. A medida que os americanos vão descobrindo o que ocorreu na estação norueguesa, tanto o cão quanto os restos mortais semicarbonizados atacam membros do time, matando-os e assimilando-os.

Eles descobrem que os noruegueses desenterraram uma nave alienígena que estava debaixo do gelo há centenas de milhares de anos. Descobrem também que havia um ocupante, e que esse ser tem a habilidade de consumir outras formas de vida, absorvendo-as e imitando-as. A paranoia toma conta de todos na base. Os homens precisam permanecer em alerta contra a coisa o tempo todo. O filme passa a mensagem de que o universo é extremamente hostil e indiferente para com nossa individualidade e, também, para com os anseios coletivos de nossa espécie, já que a coisa consome, absorve e imita todos as outras formas de vida animal que consegue dominar, adquirindo até suas memórias e sua inteligência. No final, a única maneira de derrotar a criatura é destruindo a base e congelando até a morte. Porém, ainda assim a criatura será capaz de sobreviver, visto que ela ficou enterrada num bloco de gelo por centenas de milhares de anos e acordou quando os noruegueses a desenterraram.

Alien 3, 1992, dirigido por David Fincher
É o primeiro filme que David Fincher dirigiu, e já podemos notar nele os tons sombrios que permeariam suas outras obras cinematográficas, como Seven. Infelizmente, Alien 3 foi considerado decepcionante para a maioria dos fãs da série, que se sentiram traídos ao verem um desfecho tão triste para personagens queridos como a Ripley, o tenente Hicks, o androide Bishop e a menina Newt. Contudo, o filme é coerente com o universo no qual se passam os dois primeiros. No primeiro, descobrimos que a toda-poderosa corporação Weyland-Yutani obrigou o cargueiro espacial Nostromo a trazer a criatura de volta para a Terra por considerá-la extremamente valiosa, desconsiderando a vida dos tripulantes. Ripley, a única sobrevivente da Nostromo, dormiu dentro de uma cápsula criogênica durante 50 anos, até ser achada por uma equipe de resgate. Ela descobre que sua filha já cresceu e morreu e, para piorar ainda mais sua situação, a corporação afirma que irá responsabilizá-la pela perda da carga, visto que ela explodiu a Nostromo e escapou numa nave de fuga.

A alternativa que a corporação dá para Ripley não ser responsabilizada é ir junto com um time de marines para uma colônia que está terraformando o mesmo planetoide no qual a Nostromo encontrou os ovos que produziram a primeira criatura. Essa é a premissa do segundo filme, Aliens: o resgate. Quando eles chegam ao planetoide, as coisas invariavelmente dão errado. No final, só sobram Ripley, Hicks, Bishop e Newt, sendo que Newt é a única dos colonos que consegue sair viva. Na viagem de retorno à Terra, todos eles entram em cápsulas criogênicas, assim como Ripley fez ao final do primeiro filme.

No início do terceiro filme, a nave que eles estavam, a Sulaco, tem um incêndio e o módulo de tripulantes é ejetado para um planeta que serve de colônia prisional. Na queda, Hicks e Newt morrem, e Bishop fica extremamente danificado (mais ainda do que estava ao final do segundo filme). Ripley sobrevive e descobre que a criatura-rainha trouxe ovos para dentro da Sulaco antes da batalha ocorrida no final de Aliens: o resgate. Um desses ovos se abriu enquanto eles dormiam e seu parasita causou um incêndio ao romper a cápsula onde Ripley estava inconsciente. Um outro ovo permaneceu fechado e se abriu quando o cachorro de um dos prisioneiros da colônia penal se aproximou — a criatura de Alien 3, diferentemente dos outros dois filmes, é gestada dentro de um cão (na versão estendida, é um boi que serve de hospedeiro).

Através dos equipamentos médicos de imagem, Ripley descobre carregar uma criatura dentro de si — que invariavelmente irá matá-la ao sair pela sua caixa torácica. Além disso, ela precisa lutar com a ajuda dos prisioneiros da colônia penal contra a outra criatura já “nascida”. Como se não bastassem todos esses problemas, Ripley descobre que a corporação — que é dona da colônia penal  sabe que ela está infectada com uma criatura e enviou uma equipe para resgatá-la.

Logo no início de Alien 3, o espectador toma um soco no estômago ao ver a tristeza da protagonista para com a morte de Hicks e, principalmente, para com a perda de Newt, a quem ela havia se apegado muito durante os acontecimentos de Aliens: o resgate. Em Alien 3, há uma luta contra o tempo para matar a criatura que está solta na colônia e, depois, para Ripley se suicidar. O objetivo dela é frustrar os planos da Weyland-Yutani. A vitória, neste filme, é a derrota da corporação, e para que isso ocorra, todas as criaturas precisam ser incineradas, o que significa que ela também terá que morrer. No final, entretanto, a corporação continua sendo toda-poderosa. Pouco muda, tirando o fato de que agora Weyland-Yutani não poderá mais usar aquela forma de vida extremamente perigosa.

Coração Satânico (Angel Heart), 1987, dirigido por Alan Parker
No começo deste filme neo-noir, que se passa na década de 1950, acompanhamos o detetive particular Harold Angel (Mikey Rourke) ser contratado pelo misterioso Louis Cyphre (Robert De Niro). Seu trabalho é ir atrás de um velho cantor dos anos 1940 chamado Johnny Favorite. Favorite havia sumido do mapa e deixado uma grande dívida com Cyphre para trás. A medida que ele vai desvendando o que aconteceu com Favorite, Angel passa a ter memórias de coisas que ele não faz a menor ideia de onde vieram. Aparentemente, Favorite foi para a Segunda Guerra Mundial e teve um trauma severo na cabeça, ao ponto de esquecer tudo o que havia ocorrido com ele. Ficou durante muitos anos internado num hospital pago com o dinheiro de amigos ricos, mas desapareceu de lá num determinado momento. As pistas levam Angel de Nova York para Nova Orleans, onde ele descobre que Favorite era envolvido em rituais satânicos e havia participado de um sacrifício humano para conseguir fama e sucesso como cantor.

Para realizar o ritual, Favorite e seus comparsas de Nova Orleans sequestraram um jovem soldado americano que celebrava o ano novo na cidade de Nova York. O nome do soldado era Harold Angel. Favorite comeu não apenas o coração de Angel, mas tomou para si a sua alma, adquirindo as memórias dele. Ele se tornou um cantor famoso, mas foi convocado para servir na guerra, onde foi ferido e esqueceu tudo o que havia acontecido. Não lembrava mais de ter sido cantor, de ter sido Favorite, nem dos rituais que fizeram. Acreditou ser Harold Angel e tornou-se um detetive particular. Ao final do filme, tendo descoberto isso, Angel/Favorite percebe que está totalmente perdido e que não há nada que ele possa fazer para escapar da dívida que tem com Louis Cyphre, figura que ele descobre ser o Diabo, Lúcifer. A alma de Harold Angel/Johnny Favorite queimará no inferno para sempre. Só resta chorar. 

Blade Runner, 1982, dirigido por Ridley Scott
Clássico do cinema, baseado na obra Do Androids Dream of Electric Sheep? de Philip K. Dick. No filme, acompanhamos Rick Deckard (Harrison Ford), um “blade runner”, detetive cujo trabalho é encontrar e “aposentar” (destruir) robôs biológicos conhecidos como “replicantes”. Os replicantes, feitos pela corporação de Eldon Tyrell, são usados em diversos trabalhos considerados perigosos para humanos fora do planeta, em colônias de exploração. No início do filme, os chefes de Deckard demandam um trabalho dele: encontrar quatro replicantes que vieram ilegalmente para a Terra. Seus nomes são: Leon, Zhora, Pris e Roy Batty (Rutger Hauer). A medida que a história caminha, Deckard se envolve com uma replicante nova, criada por Tyrell com memórias falsas de uma vida que nunca teve, o que faz ela acreditar ser humana.

Os quatro replicantes que vieram para a Terra descobrem que eles têm poucos anos de vida e que este prazo está acabando. Um deles, Roy Batty, vai até Tyrell com a ajuda de um dos cientistas humanos que trabalham na corporação. Batty pede para que Tyrell lhe dê mais tempo de vida, algo que Tyrell diz ser impossível. Batty então mata Tyrell. No final do filme, Deckard consegue eliminar todos os replicantes, mas é quase morto por Roy Batty, que está começando a falhar, porque seu tempo de vida está quase acabando. Apesar disso, Deckard é muito mais fraco do que Batty. Ele tenta fugir do confronto pulando do terraço do prédio em que estão para um prédio vizinho, mas fica pendurado na laje. Batty consegue pular entre os dois prédios sem dificuldade e salva Deckard, que estava prestes a cair. Machucado, Deckard senta e escuta o discurso de morte proferido pelo replicante. Batty diz que todas as memórias fantásticas que ele tem do espaço e de suas aventuras se perderão como lágrimas na chuva. Suas últimas palavras são: hora de morrer.

A Mosca (The Fly), 1986, dirigido por David Cronenberg
O filme mostra a trajetória de um brilhante e excêntrico cientista, Seth Brundle (Jeff Goldblum), inventor de uma máquina capaz de teletransportar coisas instantaneamente entre duas cápsulas ligadas apenas por alguns fios. A princípio, ele tem dificuldades para teletransportar matéria orgânica, que sempre sai extremamente deformada e danificada na segunda cápsula. Brundle se envolve romanticamente com uma repórter, Veronica Quaife (Geena Davis), e finalmente consegue resolver o problema. Ela testemunha ele teletransportar um macaco que sai são e salvo na segunda cápsula. O próximo passo é testar o processo com humanos. Entretanto, depois de uma briga com Veronica, ele resolve testar a cápsula de teletransporte sozinho, tornando-se o primeiro ser humano a passar pelo processo. O que nenhum deles nota, mas nós da plateia percebemos, é que uma mosca entrou na cápsula com ele. Ao longo do filme, vemos Brundle lentamente se metamorfoseando numa criatura híbrida, vemos o seu desespero quando ele descobre que seu DNA foi fundido com o da mosca, um processo que ele é incapaz de reverter.

Para tornar as coisas ainda piores, Veronica descobre estar grávida. Sem saber se concebeu antes ou depois da fusão genética de Brundle com a mosca, ela resolve fazer um aborto. Brundle, que foi adquirindo uma força extraordinária e a capacidade de grudar em paredes, sequestra Veronica antes que ela pudesse passar pelo procedimento. Chorando, ele suplica para que ela não aborte o feto, pois o filho deles será a única coisa que terá deixado para trás no mundo. Esse filme tem um dos finais mais tristes (e terrivelmente grotescos) de todos os tempos, quando a metamorfose se completa e o mostro, agora sem a capacidade de falar, tenta arrastar Veronica para a cápsula, com o objetivo de fundir ela e ele num só organismo.

O feito só não acontece porque um amigo de Veronica, que já havia sido ferido pela criatura, atira com uma escopeta na afiação, o que permite que Veronica escape antes do teletransporte ocorrer. O monstro, porém, não consegue escapar totalmente da primeira cápsula e é teletransportado junto com um pedaço da porta para a segunda cápsula. Agonizando de dor depois de ser fundido a um pedaço da porta da primeira cápsula, a criatura se arrasta no chão lentamente e se aproxima de Veronica, que agora segura a escopeta. O monstro, então, usa uma de suas patas para apontar a escopeta para sua própria cabeça. A princípio, Veronica chora e se recusa a matá-lo, mas Brundle-mosca repete o gesto. Veronica então explode os miolos do seu grande amor.

Mártires (Martyrs), 2008, dirigido por Pascal Laugier
Na década de 1970, uma menina chamada Lucie escapa de um matadouro abandonado onde estava aprisionada há um ano e no qual era submetida a torturas perpetradas por um grupo misterioso de pessoas. Depois de escapar, ela é resgatada e vai para um orfanato. Lá, torna-se amiga de Anna, a única pessoa que percebe que Lucie acredita estar sendo perseguida por uma aparição sobrenatural bizarra. O filme dá um salto de quinze anos no futuro e vemos Lucie invadindo a casa de uma família aparentemente normal e matando todos com uma escopeta. Ela liga para Anna, que vai até o local e fica horrorizada com o que sua amiga fez. Para Lucie, aquela família era a responsável pelo o que havia ocorrido com ela na infância, embora não tivesse como provar. Ela acreditava que conseguiria se livrar das visões sobrenaturais que a atacavam depois que os matasse, mas estava enganada. A criatura volta a atacá-la. Anna, porém, vê apenas Lucie se auto-flagelando. Lucie, percebendo que nunca ficará livre dos seus tormentos, comete suicídio.

Anna, em choque, fica na casa até o dia seguinte, quando escuta barulhos estranhos e descobre uma passagem secreta para um complexo que existe debaixo da casa e se estende para longe. Lá, Anna encontra uma jovem mulher aprisionada, com claros sinais de tortura em seu corpo, o que prova que Lucie estava certa sobre a família. Antes que pudesse ajudar a pobre jovem a escapar, um grupo aparece, mata a prisioneira e aprisiona Anna no calabouço. Uma mulher mais velha, a qual todos se referem como Mademoiselle, vem até Anna e explica para ela o que está acontecendo: eles são parte de uma organização filosófica que busca entender o que ocorre conosco após a morte. Ao longo dos anos, a organização percebeu que determinadas pessoas moribundas, em extrema agonia, parecem enxergar o outro lado da morte, numa espécie de êxtase provocado pela dor. O grupo, chefiado por Mademoiselle, tenta produzir esse efeito nas suas vítimas, chamadas por eles de “mártires”.

A organização submete Anna a diversas violências físicas pelas próximas semanas ou meses, algo que não fica bem claro, até o momento em que ela parece começar a enxergar visões sobrenaturais. A partir desse ponto, os torturadores esfolam Anna viva, arrancando toda a sua pele com objetos cortantes. Anna, moribunda, começa a olhar fixamente para um ponto, da mesma maneira que os mártires tão procurados pela organização fazem. Mademoiselle é chamada rapidamente para escutar o que Anna tem a dizer sobre o outro lado da morte. Neste ponto, Anna só é capaz de sussurrar ao ouvido da velha Mademoiselle, que escuta atentamente. Anna morre, e a organização promove um grande evento para finalmente divulgar o segredo num casarão. Enquanto todos estão se reunindo no salão do casarão, Mademoiselle conversa com um de seus lacaios através da porta do banheiro. Ela pergunta para ele se ele consegue imaginar o que ocorre após a morte. Ele responde que não, ao que ela replica: “continue duvidando”. Mademoiselle, então, comete suicídio atirando na própria boca.

Os Invasores de Corpos (Invasion of the Body Snatchers), 1978, dirigido por Philip Kaufman
Esse filme é o remake de outro filme de mesmo nome, de 1956, que por sua vez é baseado num livro do mesmo nome. A história gira em torno de Elizabeth Driscoll (Brooke Adams), uma cientista que trabalha no Departamento de Saúde de São Francisco, e Matthew Bonnell (Donald Sutherland), colega seu no Departamento. Elizabeth descobre uma flor com fragrância diferente na flora local e traz um exemplar para sua casa. O que ela não sabe, é que a flor foi produzida por um casulo gelatinoso bizarro que se ligou à flora daquele local após vir do espaço, fugindo de seu planeta, que estava prestes a morrer. Ela volta para o apartamento que divide com seu namorado, coloca a flor num vazo e eles vão dormir. No dia seguinte, ela percebe que seu namorado está interagindo de maneira estranha, distante, sem demonstrar emoções. Ela então conversa com Matthew, e ambos resolvem conversar com o psiquiatra de Matthew, David Kibner (Leonard Nimoy). David diz que ela não deve se preocupar, que talvez seja hora dela romper a relação com seu namorado, algo que ela faz.

No meio disso tudo, Matthew recebe uma ligação de seu amigo, Jack Bellic (Jeff Goldblum), pedindo para que ele investigue um corpo gelatinoso que lembra o seu, que foi encontrado no spa de sua mulher, Nancy (Veronica Cartwright). Matthew sente que algo terrível está acontecendo na cidade, e corre para alertar Elizabeth. Ele chega no apartamento dela e a salva de ser morta e duplicada durante o sono por um dos casulos alienígenas. Os dois fogem de lá, deixando corpo semi-formado dela no apartamento. Eles trazem a polícia, mas quando chegam, o corpo sumiu. O grupo de amigos percebe que a cidade está sendo aos poucos toda duplicada pelos casulos enquanto as pessoas dormem. As réplicas têm a aparência e as memórias dos humanos originais, mas são desprovidas de emoção. Os quatro tentam fugir da cidade, mas a polícia, que já está toda infiltrada, acaba os perseguindo, rastreando-os pelos telefones que usam. Num determinado momento, durante uma perseguição, os casais (Matthew e Elizabeth, Jack e Nancy) se separam, sendo que Jack é capturado. Matthew e Elizabeth vão para o Departamento de Saúde, mas lá são capturados por Jack e por David, ambos transformados.

Eles conseguem matar a cópia de Jack e prender David dentro de um frigorífico para corpos, e depois encontram Nancy, ainda humana. Nancy diz para eles que descobriu um truque para não chamar atenção: fingir não ter emoções entre as outras “pessoas”. Os três então tentam entrar em transportes que estão saindo da cidade para outros lugares mas, nesse momento, um cão com cabeça humana (resultado de um único casulo sugar a vida de um mendigo e de seu cão de uma vez só) aparece perto deles e Elizabeth dá um grito, o que alerta a todos os alienígenas em volta que ela é humana. Matthew então agarra Elizabeth e os dois saem correndo. Nancy consegue se disfarçar e fica para trás. O casal então vai para o pier da cidade, tentar achar uma embarcação para fugir dali. Lá eles percebem que há navios sendo carregados com casulos para serem levados para todo o mundo. Matthew se separa de Elizabeth para procurar um barco e, quando volta, vê o corpo dela se desfazendo, virando pó. Elizabeth pegou no sono enquanto o esperava e foi duplicada por um casulo, que estava na mata. A réplica de Elizabeth então se ergue e diz para Matthew não temer, que é melhor assim. Ele então foge e se esconde.

Dias depois, vemos Matthew caminhando pela cidade. Ele observa crianças sendo levadas em caminhões para serem duplicadas. Praticamente todos os adultos já foram duplicados e são, na verdade, alienígenas. Nancy acaba o vendo no meio de uma praça enquanto ele caminhava e tenta sussurrar para ele, para dizer que ela ainda estava era humana. Ele vira-se para ela e solta um grito, característico dos alienígenas, alertando a todos os outros que Nancy ainda era humana.

A Profecia (The Omen), 1976, dirigido por Richard Donner
O filme começa num hospital em Roma, onde a esposa do diplomata americano, Robert Thorn (Gregory Peck), acaba de dar a luz a um menino. Robert é então informado de que seu filho morreu pouco depois do parto e um padre, chamado Spiletto, diz para ele que uma criança, nascida naquela mesma noite, perdera a mãe no parto e não tinha ninguém para cuidar. Spiletto oferece o menino para ele adotar. Sem contar nada para sua esposa, Robert aceita. O casal dá o nome de Damien para a criança.

Cinco anos depois, Robert torna-se embaixador americano no Reino Unido. Tudo parece estar bem até que, durante a festa de aniversário de Damien, a babá dele se suicida por enforcamento na frente de todos os convidados. Após o incidente, o casal Thorn contrata uma nova e dedicada babá. Mas as coisas continuam a piorar e Robert passa a ser assediado por um padre chamado Brennan. Este padre tenta convencê-lo de que Damien é fruto do mal e que não foi parido de uma mulher, mas sim de um chacal. Brennan afirma ter testemunhado o nascimento, anos atrás, e se arrepende de ter ajudado. A princípio, Robert reluta a dar ouvidos ao padre, mas acontecimentos cada vez mais bizarros o fazem procurar Brennan novamente. O padre Brennan conta que seu filho é o filho do diabo e que ele precisa ir para Israel, encontrar um expert no Armageddon, que lhe dará as armas para matar o anticristo.

Robert se recusa e o padre, ao voltar para igreja no meio de uma tempestade, morre empalado por um pedaço de ferro que se desprendeu da torre da igreja. Depois desse acontecimento, Keith Jennings (David Warner), um fotógrafo jornalístico que cobria o embaixador, entra em contato com ele para lhe mostrar distorções bizarras em determinadas fotos que tirou. Keith esteve no aniversário de Damien e também fotografou encontros do padre Brennan com Robert. As fotos da babá e do padre mostravam sombras que o fotógrafo depois percebeu estarem relacionadas à maneira como ambos morreram. Keith nota que uma das fotos que tirou de si próprio contém as mesmas distorções.

Os dois homens viajam para Roma e investigam o nascimento de Damien. Lá descobrem que o hospital onde Damien nasceu sofreu um incêndio poucos anos atrás, no qual muitos funcionários morreram e todos os registros foram perdidos. O padre Spiletto, no entanto, ainda está vivo, apesar de ter sofrido queimaduras severas. Keith e Robert vão até o mosteiro onde Spiletto está e o padre revela que a mãe de Damien está enterrada num cemitério etrusco. Chegando no cemitério, eles encontram a tumba da “mãe” de Damien. Ao abrirem, veem o esqueleto de um chacal. A tumba ao lado contém o filho daquela “mãe”. Robert abre a tumba e vê o esqueleto de um bebê com uma perfuração na cabeça. Ele percebe que seu filho biológico não morreu de causas naturais, mas foi assassinado por satanistas na noite do seu nascimento. Tanto Spiletto, quanto Brennan, sabiam da verdade porque participaram do ritual no qual Damien nasceu.

Keith e Robert então viajam para Israel e encontram o expert mencionado anteriormente por Brennan. O expert lhes entrega adagas ritualísticas e diz que Robert terá que matar Damien em solo sagrado. Robert se recusa e joga as adagas numa ladeira. Keith vai atrás das adagas mas, nesse momento, uma caminhonete estacionada perde o freio e desliza descontroladamente pela ladeira, batendo num obstáculo. Uma placa de metal é arremessada da traseira da caminhonete em direção ao fotógrafo e decepa sua cabeça. Robert testemunha a cena e decide matar o menino. Nesse meio tempo, Damien causou um acidente que mandou sua mãe para o hospital, onde ela acabou sendo morta pela nova babá, que faz parte da trama satânica. Robert chega em Londres, arrasta o menino para uma igreja e tenta esfaqueá-lo com as adagas. Nesse exato momento, a polícia chega e atira contra Robert. Na cena final do filme, vemos que Damien foi adotado pelo presidente dos Estados Unidos e sua esposa.



The Empty Man, 2020, dirigido por David Prior
Além de dirigir, Prior (que trabalhou durante anos com David Fincher) também escreve o roteiro do filme. The Empty Man toma “emprestado” o título de uma série em quadrinhos, mas é diferente da mesma. A saga de Prior para conseguir lançar seu filme em meio à venda da Fox para a Disney é em si uma história longa e triste, porém grande demais para colocar aqui, mas que vale a pena ser pesquisada pelo leitor. Vamos, então, ao filme.

Em 1995, dois casais de amigos, Greg, Fiona, Ruthie e Paul, estão fazendo trilha nas montanhas do Butão, quando Paul é atraído por um som e acaba caindo numa fenda na rocha. Greg desce na caverna para resgatar Paul e o encontra em transe de frente a um esqueleto bizarro. Após o resgate, todos se abrigam de uma nevasca numa casa abandonada próxima do local. Durante a noite, enquanto todos dormem, Paul sussurra um mantra sinistro no ouvido de Ruthie. No terceiro dia, Paul desaparece. Seus amigos o encontram em posição de lótus na frente de uma ponte precária, que se estende sobre um enorme precipício. Enquanto Greg e Fiona discutem, Ruthie entra em transe, esfaqueia Greg e Fiona e os joga do precipício, ainda vivos. Depois, Ruthie também se joga.

Em 2018, acompanhamos o ex-policial James Lasombra, que perdeu sua mulher e filho num acidente de carro um ano antes. Durante o acidente, ele estava traindo sua esposa com a sua vizinha, Nora, mãe de Amanda. Ele tem uma breve conversa com Amanda, e mais tarde, naquele mesmo dia, Nora liga para dizer que Amanda desapareceu, deixando apenas a frase “o homem vazio me obrigou” escrita em sangue no banheiro. James descobre que vários amigos de Amanda também desapareceram. Seguindo as pistas acaba encontrando-os todos mortos, num aparente suicídio, enforcados debaixo de uma ponte. Todos os jovens estavam participando de um culto misterioso num lugar chamado instituto Pontifex.

James vai ao prédio e no retiro de campo do instituto. Nesses lugares, James descobre que eles existem há décadas e tem como objetivo conjurar um homem através do poder da mentalização em grupo, manifestação que eles chamam de “tulpa”. Diversas tentativas fracassam. Uma delas foi gravada em vídeo que mostra o tulpa enlouquecendo a si e aos cultistas do Instituto Pontifex no retiro, levando à morte de todos. James descobre que o instituto tem arquivos detalhados sobre a sua vida mas, para sua surpresa, todas as informações sobre ele são recortes e fotos da vida de outras pessoas. Ele segue cultistas até um hospital e lá descobre um homem que está em coma há muito tempo sendo cultuado pelos membros do instituto. O homem em coma é Paul, que fora possuído no início do filme pela entidade macabra nas montanhas do Butão.

A entidade usa corpos para transmitir sua mensagem de loucura niilista aos cultistas. James descobre Amanda no hospital, e ela o informa que ele é um tulpa, uma manifestação física criada através da mentalização do culto há apenas três dias, para servir como novo veículo para a entidade. Como os veículos acabam sucumbindo num coma profundo depois de pouco tempo com a entidade habitando-os, e como demora muito tempo entre um veículo e outro (lembre-se do esqueleto bizarro na caverna do início do filme), o Instituto Pontifex decidiu criar um tulpa, um homem vazio, para servir de receptáculo e acelerar a encarnação da entidade. James, descobrindo que sua vida é uma mentira, sucumbe à entidade e ela, apossada de seu corpo, atira na cabeça de Paul. Fora do quarto do hospital, diversos cultistas se ajoelham para “James”.


por Fernando Olszewski