A confirmação da existência de vida fora da Terra seria lamentável

Pilares da Criação, foto do Telescópio Espacial James Webb

O Telescópio Espacial James Webb pode ter detectado sinais de vida — pelo menos microbiana — em outro mundo. De uma perspectiva filosófica pessimista, a confirmação da vida em outras partes do universo seria lamentável. Uma reportagem da BBC1 afirma que o James Webb pode ter detectado uma molécula chamada sulfeto de dimetila (DMS) em um exoplaneta. Na Terra, isso só é produzido pela vida. Os pesquisadores também detectaram metano e CO2 na atmosfera do planeta.

Isso tudo ainda precisa ser confirmado e devidamente revisado por pares. Ainda assim, a mera possibilidade da vida poder surgir em outras partes do universo, dela ser um acontecimento relativamente comum, seria algo lamentável dentro de uma perspectiva como o pessimismo filosófico ou pessimismo cósmico. Nas famosas palavras de Schopenhauer, já citadas por mim em outras ocasiões:
Se refletirmos o máximo que pudermos sobre a soma total de miséria, dor e sofrimento de todo tipo que o Sol brilha em seu percurso, admitiremos que teria sido muito melhor se tivesse sido tão impossível para o Sol produzir o fenômeno da vida na Terra como na Lua, e a superfície da Terra, como a da Lua, ainda estivesse em estado cristalino.2
Mesmo que os processos químicos observados nesse exoplaneta em particular sejam devidos à vida microbiana, se for confirmada a existência de vida microbiana em outros lugares, então não é exagero presumir que a evolução darwiniana pode ocorrer neles. E num universo infinito ou pelo menos incompreensivelmente grande — não apenas em termos de espaço, mas também de tempo — a evolução pode dar origem à senciência e, portanto, ao constante sofrimento, enquanto o universo for, pelo menos em princípio, capaz de sustentar a vida.

Agora, muitos acreditam que a existência de vida em outras partes do universo é quase óbvia. Mas essa crença, por mais bem fundamentada em argumentos numéricos como a equação de Drake e suas variantes, ainda é uma crença antes de haver confirmação empírica. A hipótese da Terra Rara é igualmente bem fundamentada, talvez até mais.

E mesmo a confirmação de vida microbiana em outros lugares ainda pode deixar espaço para a vida ser um tanto rara, especialmente a existência de organismos multicelulares mais complexos. Pelo menos é o que podemos esperar caso tenhamos a confirmação de que a observação do telescópio James Webb é realmente uma confirmação da vida.


por Fernando Olszewski

Referências:
2. Arthur Schopenhauer, Parerga and Paralipomena (Tradução para o inglês do Payne, tradução minha para o português), p. 299.